“O trabalho não precisa ser isto, jamais.”

Algo no universo do que fazemos para viver parece estar em desencaixe: o lugar que o trabalho ocupa dentro de nós parece pedir novos movimentos.

O lugar que o trabalho ocupa em nossas vidas e o sentido de por que trabalhamos está sendo colocado à prova. O aumento de pedidos de demissão ocorre também no Brasil, país que hoje tem a 6ª maior taxa de desemprego em ranking com 42 países. Não foi apenas o lugar em que trabalhamos que mudou após os tempos de isolamento social – o lugar que o trabalho ocupa dentro de nós parece diferente agora.

Se transformar a forma como trabalhamos é um desafio em todas as partes do mundo, profissionais da área de pessoas e especialistas em Cultura Organizacional precisam se unir. Recentemente, tive uma conversa muito agradável com Vincent Aboynas-Billiet, do grupo B-harmonist, liderado por Patrick Vignaud. Vincent diz, em bom francês: “Le travail n’a pas à être ça, jamais.”. O trabalho não precisa ser isso, jamais. E explica: “Quando você se levanta com um nó no estômago por causa do trabalho, quando você vai dormir ansioso por causa do dia de amanhã, quando seus finais de semana seguem o ritmo “Sexta-feira estou exausta, sábado está tudo bem e domingo eu me preocupo com a segunda”, algo precisa ser cuidado”. Em português, pra vocês, eu ecoo: não, o trabalho não precisa ser isso, jamais, minha gente. 

Parece mesmo que nosso olhar sobre o significado da vida do trabalho está viciado e conectado à uma inércia que vem de um lugar que já não encaixa no agora. Por muito tempo associamos trabalho à dor e ao desprazer e nos submetermos ao fazer digno e despropositado. Já vem tarde o momento de transformar o sentido do trabalho e de nos reconectarmos à alegria de produzir cheios de sentido e gerar valor no mundo. 

Produzir valor através do fazer é algo inerente ao ser humano. Em uma viagem recente em família, visitei o Museu Marítimo de Rotterdam com meus sobrinhos. Por terem nascido submersos em culturas diferentes, eles só podiam trocar algumas palavras em português.  No final da visita, chegamos a uma área onde as crianças simulariam como seria trabalhar no porto da cidade, que dava para ser visto da janela. 

À disposição estavam mini empilhadeiras, objetos simulando containers e cargas, esteiras, balanças, e toda a parafernália do serviço pesado que deve ser trabalhar em um porto. Não havia regra em nenhuma parede sobre quem deveria ser o líder,  qual seria a recompensa, funções ou horários. Ainda assim, as crianças se encontravam no fazer, se comunicavam pelo corpo e intuiam o que a outra criança precisava para ajudá-la a chegar ao seu objetivo – ainda que não houvesse um objetivo definido. Adultos apenas observavam em bancos dispostos de longe. 

Não havia Employee Value Proposition ou um quadro com a missão e valores do mini porto, mas o nível de energia ali era incrível.

Crianças suadas, que se ajudavam, sorriam, corriam para fazer rapidamente, com a máxima eficiência a tarefa que elas haviam criado para elas mesmas, em movimentos naturais e genuínos, trabalhando com alegria. As crianças se faziam inteiras no que estavam fazendo, e o exercício do fazer era só um pretexto para estarem juntas em ação – o trabalhar ficava em segundo plano. 

Muitos de nós já tivemos a oportunidade de atuar em grupos de trabalho em que nos sentíamos altamente energizados. Sabemos como é bom se transportar inteiro para o lugar do fazer, tendo clara a linha que separa o que somos do que fazemos. Muitos (mais ainda talvez), já estivemos em ambientes e grupos em que nos sentíamos despropositados, esquisitos e desencaixados. Sabemos o quão indigesto e dolorido isso pode ser. 

Falar de amor e propósito no trabalho não deveria ser papo de guru. Viver nosso propósito é um direito existencial e deveríamos assumir que cada ser que nasce tem como premissa o direito de viver o seu propósito e colocar à disposição de outras pessoas seus dons e talentos, com alegria e leveza. 

É tempo de parar de apontar o que deveria estar errado no mundo e começar a construir. Nós temos o poder de escolha em nossas ações diariamente, e estamos prontos para assumir a nossa responsabilidade de criar realidades diferentes – o que envolve a forma como nos relacionamos com nossas jornadas profissionais e como as aplicaremos em nossas rotinas, como já escrito no artigo “A volta para o escritório ou a ida para o futuro do trabalho?” .

Não apenas o que produzimos com nosso trabalho, mas também como trabalhamos, afeta diretamente a vida uns dos outros. Afeta nossa saúde, afeta nossos sorrisos e também daqueles que amamos. Poder produzir com amor, através de conexões verdadeiras pode ser a fundação de nossa vida em sociedade e não um luxo para poucos e acredito que a transformação da forma como trabalhamos é o primeiro passo para chegarmos no encontro feliz entre o ser e o fazer.

Porque é isto que o trabalho deve ser.

Photo by Kyle Hanson on Unsplash

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