Do ideal ao real: redefinindo propósito no trabalho 

Será que é justo dizer que a Geração Z é puramente transacional na relação com o trabalho porque não compram mais narrativas vazias?

Nos anos 2010, fundadores de startups buscavam profissionais com propósito, que se dedicam e têm um “senso de dono” para favorecer o crescimento da empresa. 

Claro que essa abordagem nem sempre trazia uma compensação justa. Mas, de algum jeito, funcionava. 

Eles diziam que não era sobre o dinheiro; era sobre fazer a diferença, aprender e dar tudo de si pelo sucesso da startup – eles sabiam fazer os funcionários se sentirem especiais, parte de algo maior. As pessoas então aceitavam salários de baixos à razoáveis,  desde que pudessem se sentir empoderadas para tomar decisões, jogar pingue-pongue no escritório e ter uma geladeira cheia de cerveja.

Mas aí vieram os anos 2020, e com eles, a Geração Z, que não comprou essa história de trabalho com propósito. Eles questionaram tudo: trabalho demais, cultura ruim, chefes mal treinados, falta de clareza e reconhecimento. Essa geração chegou sem medo de ser vista como transacionais, imediatista e ambiciosos demais.

A Geração Z soube enxergar o que a geração anterior não viu, nesta tal armadilha do propósito: muitas concessões e retornos incertos no futuro.

Será que é justo dizer que a Geração Z é puramente transacional em sua relação com o trabalho, porque não compram mais narrativas vazias sobre propósito?

Eles querem aprender enquanto trabalham e desejam uma experiência que os enriqueça tanto profissional quanto pessoalmente. Eles querem expectativas claras de desempenho e prazos, incluindo plano de desenvolvimento, além de um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.

E será que todos nós não queremos e merecemos isso?

Amy Webb, uma futurista e estrategista de negócios renomada, compartilhou em seu último relatório durante um festival de inovação uma visão onde todos nós – Gen Z, X – fazemos parte de uma só geração, a Geração T. A Gen T, segundo ela, é a geração de transição que precede uma mudança colossal que está prestes a acontecer na forma como vivemos e trabalhamos. Ela diz que todos os humanos vivos hoje fazem parte dessa grande transição, e que nossa sociedade será muito diferente após completá-la.

O que eu gosto  nessa visão é que a Amy redefine as diferenças de geração e coloca todos nós na mesma caixa: o da raça humana, que agora precisa encontrar maneiras de convergir e resolver rapidamente as ameaças futuras de nossa humanidade.

Enquanto executamos nosso trabalho diário, nossas vidas estão passando, e a continuidade do planeta, conflitos políticos, e a pobreza e desigualdade ainda não resolvidas continuam a adicionar medo e incerteza, bloqueando muitas vezes o cérebro humano de criar soluções.

Dessa forma, o trabalho pode ser uma maneira de reagir positivamente a isso. Integrar a necessidade humana de senso de sentido aos desafios que enfrentamos como humanidade, e transformá-lo em senso de propósito tambem nas organizações 

Fazer parte de um grupo de pessoas que está criando um impacto positivo no mundo não apenas toca a necessidade humana de pertencimento; pode ser uma reação individual e coletiva a tudo o que está acontecendo no mundo agora. Estar rodeado por histórias reais sobre o impacto positivo do nosso trabalho é gratificante e – comprovado pela ciência – pode não apenas aumentar a produtividade e o potencial para criar grandes soluções – pode nos dar uma vida mais longa e saudável.

Todos nós precisamos de uma proposta honesta e empolgante que se alinhe com nosso desejo de transformar nosso tempo de trabalho em uma maneira valiosa e significativa de impactar o mundo. Como humanos, não podemos esperar mais para fazer um impacto positivo no mundo; incorporar essa necessidade em nosso trabalho diário pode ser uma ótima maneira de alcançar isso.

O trabalho deveria nos enriquecer tanto profissional quanto pessoalmente — é isso que todas as gerações desejam, e já está mais do que na hora de encontrarmos um caminho comum para isso.

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