Cultura organizacional é privilégio de poucos?

Durante os projetos de cultura que conduzimos na CultureCode, sou frequentemente questionada sobre se o colaborador que está na operação de base se conecta à propósito e à experiência do colaborador, ou quanto está ali apenas pelo emprego, garantindo o sustento da familia, e o quanto cultura não é relevante apenas para o “povo da Faria Lima.”

Levar em conta a cultura organizacional como fator na decisão de carreira é privilégio de poucos?

Assisto de perto a destransacionalização das relações de trabalho, e vejo o quanto o colaborador hoje busca sentido e significado associado à sua profissão. Enquanto as organizações se transformam em plataformas de encontros do fazer, profissionais escolhem por empresas que os enriquecem profissional e pessoalmente. Só cargo, salário e um bom crachá corporativo não atraem nem seguram mais ninguém. Mas será que isto se restringe apenas à parcela das minorias que têm poder de escolha sobre como e onde desejam investir seu tempo e energia trabalhando?

Durante os projetos de cultura que conduzimos na CultureCode, sou frequentemente questionada sobre se o colaborador que está na operação de base se conecta à propósito e à experiência do colaborador, ou quanto está ali apenas pelo emprego, garantindo o sustento da familia, e o quanto cultura não é relevante apenas para o “povo da Faria Lima.”

De fato, eu mesma já neguei posições no passado porque enxerguei que, apesar de ofertas atraentes em cargo, salário e crachá corporativo, eu, que sou tão conectada ao significado em tudo o que faço, estaria me enganando e sendo desonesta com o meu potencial futuro time se as aceitasse. Eu sabia que, se adentrasse em organizações sem match de valores com o meu líder, ou se tentasse fazer parte de times e que atuavam com um “vazio existencial”, desconectados do propósito maior e da responsabilidade no impacto no mundo, em pouco tempo estaria esvaída de energia produtiva, sem inspiração, e buscando meu próximo passo. Honrar essa minha natureza nem sempre foi fácil, mas por sorte foi inevitável e abriu clarões em minha carreira e vida pessoal. E tenho consciência que tive o privilégio da escolha.

Levar em conta a cultura organizacional de uma organização na decisão de ingressar ou deixar uma posição é sem dúvida, privilégio de poucos, especialmente em países em desenvolvimento econômico com o Brasil, mas que se reflete também em camadas sociais de países economicamente mais estáveis. Porém, os aspectos extra-transacionais do trabalho, que trazem um senso maior de sentido e norte não são mobilizadores apenas para o “time do ar-condicionado”.

O que faz o colaborador aceitar uma oferta de emprego é diferente do que o faz permanecer na missão

Em projetos de transformação de cultura organizacional que tive a oportunidade de atuar recentemente, decidi investigar o tema, literalmente, no campo. Em uma organização que produz etanol, facilitamos workshops nas plantações e usinas. Ouvi de um colaborador que sim, o que o fez iniciar na empresa e aceitar o cargo era o fato de ele ter que sustentar a familia, mas o que o faz permanecer, dedicado e acreditando no crescimento da organização, são outros aspectos: ele narrou o quanto sente orgulho em produzir energia limpa e contar isto aos filhos; e ver seus colegas de trabalho se desenvolvendo ao longo dos anos; em ver mulheres ocupando posições antes apenas restritas aos homens. O que o fez aceitar o emprego foi de fato, necessidade ligada à sobrevivência; o que o faz permanecer ativo na missão e em uma entrega amplificada, é todo o resto.

Em uma outra experiência, estávamos em uma unidade fabril no interior da Bahia que produz pneus em grande escala. Ouvimos de um colaborador que o orgulho estava em fazer as pessoas “lá fora” se movimentarem com segurança. Ele narrou que, quando saía aos finais de semana, ficava olhando as outras famílias em seus carros e pensando: “graças ao meu trabalho, que é produzir pneus, as pessoas podem ir e vir levando suas familia com segurança”. E não é o mote “mover o mundo com segurança” virou tema central deste EVP?

Sim, escolher entrar ou deixar uma posição levando em consideração a cultura organizacional é um privilégio de poucos, que tem opções de escolha abundantes. Ao mesmo tempo, a camada extra-transacional associada ao trabalho não é altamente mobilizadora apenas para o povo do escritório.

O senso de sentido e propósito associado ao trabalho emerge em todos os níveis da organização, pelo simples fato de estarmos felizmente e inevitavelmente evoluindo nossa relação com o trabalho na medida em que evoluímos também as nossas capacidades humanas, nos conectamos emocionalmente com o que fazemos e queremos levar impacto positivo para o mundo.

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